Investigações reduzem rentabilidade das companhias e fundos de participações; venda de ativos por empresas investigadas, por outro lado, aquece mercado de capitais
São Paulo – Os resultados de empresas e fundos que investem em participações de outras firmas estão sangrando diante de impactos da Lava Jato e da crise. Paralelamente, companhias investigadas pela operação, ao se desfazerem de ativos, aquecem o mercado de capitais.
O balanço do BNDESPar, firma de participações do BNDES, por exemplo, cujos números vão até setembro deste ano, apresentou prejuízo de R$ 95 milhões acumulado do ano, enquanto, em 2014, registrou lucro líquido superior a R$ 2 bilhões.
Já as provisões para perdas do braço do BNDES, também apresentaram mudanças significativas, com R$ 516 milhões medidos de janeiro a setembro de 2014 contra R$ 2,7 bilhões no mesmo período deste ano.
De acordo com Sérgio Ricardo Fogolin, sócio do setor societário do Siqueira Castro Advogados, no entanto, as condições observadas para operações de fusões e aquisições pode trazer novas oportunidades de negócio.
“Eu entendo que seja um fator positivo porque, primeiro você transfere as participações para empresas que tem o foco determinado para o serviço. No caso do banco BTG Pactual, por exemplo, ele vai parar de investir em rede de hospitais e estacionamentos e consequentemente vai deixar que alguém que realmente conhece o ramo e tem outras operações similares possa trazer novas sinergias e oportunidades de negócio”, avalia o especialista.
Para Antonio Carlos Morad, advogado titular da Morad Advocacia Empresarial, empresas estrangeiras também veem oportunidades no setor, uma vez que a “compra está barata no País”.
“As ações dessas empresas caíram e, se caíram, os preços estão bons. Esse aquecimento, no entanto, não se dá só nesse setor dos ‘corrompidos’, sendo que também tem em outros setores e empresas que estão sendo vendidos por causa da situação do dólar no País”, afirma.
Para Adriana Cardinali, advogada do escritório Straube Advogados, apesar das empresas “baratas” serem uma oportunidade, as estrangeiras tem consciência da cautela necessária para se investir no País no atual momento.
“Uma empresa que tenha envolvimento com escândalos de corrupção e que eventualmente esteja vendendo participações ou ativos é avaliação de risco que o investidor estrangeiro vai ter que fazer. Pode até ser um valor baixo, mas os riscos do negócio assustam”, analisa Cardinali.
Diversificação de papéis
Em relação à diversificação de papéis por parte das empresas que compram participações, os especialistas ouvidos pelo DCI ressaltam que pode ter resultados positivos para o País e trazer melhores oportunidades para essas companhias.
“Se as empresas pulverizarem seus capitais e venderem suas ações, pode ser bom para o Brasil, porque se o corrupto perde o controle da empresa, ela pode ter uma oportunidade melhor na mãos de pequenos acionistas, por exemplo, que poderão escolher uma diretoria diferente da que já existe, sem vícios e que poderia ser controlada pela assembleia de acionistas”, avalia Morad, que também ressalta a importância do compliance corporativo.
Fogolin lembra, no entanto, que raras são as empresas com capital para a diversificação.
“É uma decisão estratégia do investidor para saber se vale a pena esperar e confiar na empresa que investiu ou realizar eventual prejuízo e ir pra outro mercado”, conta.
Sobre o possível impeachment anunciado, os especialistas afirmam favorecimento do mercado e um possível “acalento” nas operações.
“Se o mercado perceber que o impeachment vai acontecer e que a operação Lava Jato não será só mais uma investigação leviana, a gente adianta 2016 para ser um pouco melhor do que o esperado. Caso contrário, é possível termos um início de ano ainda pior do que fecharemos 2015”, afirma Leandro Silva, coordenador de relações internacionais do Centro Universitário Newton Paiva.
“Momentos de crise aguçam a criatividade da empresa e de consultores, podendo fazer com que empresas médias e pequenas se unam pra ganhar em escala e sinergia, com condições de enfrentar o mercado”, conclui Fogolin.
Isabela Bolzani
***Reportagem publicada pelo Jornal DCI no dia 4/12/2015 com a participação do advogado Antonio Carlos Morad, fundador da Morad Advocacia Empresarial.